A constituição da demanda para a Neurologia a partir da Educação
DOI:
https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v24i51.1217Palavras-chave:
medicalização, Neurologia, encaminhamentos a Neurologia, neurocolonização, educação especial.Resumo
O presente texto é resultado de uma pesquisa que investiga a constituição da demanda para a Neurologia a partir da solicitada pela Educação utilizando elementos quantitativos e discursivos. Propõe-se o termo neurocolonização – em que os saberes das neurociências-pesquisa seriam fundamentais à otimização do ensino – e revisita-se o tema da medicalização na Educação, problematizando a prática de compreender o não aprendizado como falha do/no corpo do sujeito. Como estratégia metodológica, foi feito o levantamento dos encaminhamentos realizados num município da Grande Porto Alegre, RS e a análise de documentos escolares anexos a alguns desses encaminhamentos. Os achados indicam que as questões relacionadas à Educação figuram como a principal causa agrupável dentro dessas indicações, superando problemas como epilepsia/convulsões. A leitura desses anexos evidencia inespecificidade das situações-problema e hibridização de modos de olhar a questão das crianças que lançam desafios à escola, onde coexistem demandas por intervenções familiares, por classificações psiquiátricas contemporâneas e incidência de leituras psicologizantes, reproduzindo formas de medicalização e seus desdobramentos de medicamentalização e patologização.
Referências
ANGELUCCI, C. B. A patologização das diferenças humanas e seus desdobramentos para a educação especial. In: Reunião Nacional da ANPEd, 37., Florianópolis, 2015. Trabalho Encomendado GT15 – Educação Especial 1. Anais [...]. Florianópolis: UFSC, 2015.
CALIMAN, L. V. A constituição sócio-médica do “fato TDAH”. Psicologia & Sociedade, v. 21, n. 1, p. 135-44, abr. 2009.
CARVALHO, W. L. Experiência e cuidado de si: reflexões acerca do sujeito no espaço escolar. Cadernos de Pesquisa, v. 23, n. 3, p. 55, dez. 2016.
CASTEL, R. A ordem psiquiátrica: a Idade de Ouro do Alienismo. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
CHRISTOFARI, A. C.; FREITAS, C. R. DE; BAPTISTA, C. R. Medicalização dos Modos de Ser e de Aprender. Educação & Realidade, v. 40, n. 4, p. 1079-102, dez. 2015.
COSTA, J. F. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
DE VOS, J. Deneurologizing Education? From Psychologisation to Neurologisation and Back. Studies in Philosophy and Education, v. 34, n. 3, p. 279-95, maio 2015.
DONZELOT, J. La police des familles. Paris: les Éditions de minuit, 2005.
FREITAS, C. R. DE. Corpos que não param: criança, “TDAH” e escola. Orientador: Claudio Roberto Baptista. 2011. 195f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2011.
GOODMAN, R.; SCOTT, S. Psiquiatria Infantil. São Paulo: Roca, 2004.
LANTERI-LAURA, G.; BOUTTIER, J.-G. La evolución de las ideas sobre el sistema nervioso central y sus relaciones con el desarrollo de la psiquiatría moderna. In: POSTEL, J.; QUÉTEL, C.; GONZÁLEZ ARAMBURO, F. Nueva historia de la psiquiatría. México: Fondo de Cultura Económica, 2000.
LAURIDSEN-RIBEIRO, E.; TANAKA, O. Y. Problemas de saude mental das crianças: abordagem na atenção básica. São Paulo: Annablume, 2005.
MOYSÉS, M. A. A. A institucionalização invisível: crianças que não-aprendem-na-escola. São Paulo: FAPESP, 2001.
MOYSÉS, M. A. A. A medicalização na educação infantil e no ensino fundamental e as políticas de formação docente: a medicalização do não-aprender-na-escola e a invenção da infância anormal. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 31., 2008, Caxambu. Constituição brasileira, direitos humanos e educação. Anais [...]. Caxambu: ANPED, 2008.
PYKETT, J.; DISNEY, T. Brain-Targeted Teaching and the Biopolitical Child. In: KALLIO, K.; MILLS, S.; SKELTON, T. (Eds.). Politics, Citizenship and Rights. Geographies of Children and Young People. [s.l.] Springer Singapore, 2015. p. 1-17.
RICHTER, B. R. Hiperatividade ou indisciplina? - O TDAH e a patologização do comportamento desviante na escola. 2012. 126f. Orientador: Luíz Henrique Sacchi dos Santos. Dissertação (Mestrado em Educação e Ciências: Química da Vida e Saúde) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2012.
ROSE, N. Beyond medicalisation. The Lancet, v. 369, n. 9562, p. 700-02, 2007.
ROSE, N. S.; ABI-RACHED, J. M. Neuro: the new brain sciences and the management of the mind. Princeton, N.J: Princeton University Press, 2013.
SANTOS, L. H. S. O dispositivo de (bio)medicalização, as neurociências & o currículo na produção de corpos medicalizados na escola contemporânea. In: PARAISO, M. A.; VILELA, R. A.; SALES, S. R. (Ed.). Desafios contemporâneos sobre currículo e escola básica. 1. ed. Curitiba: CRV, 2012. v. 1. p. 181-204.
SANTOS, L. H. S.; FREITAS, C. R. TDAH, educação e cultura: uma entrevista com Ilina Singh (Parte 1). Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 20, n. 59, p. 1077-86, dez. 2016.
SINGH, I. Biology in context: social and cultural perspectives on ADHD. Children & Society, v. 16, n. 5, p. 360-67, nov. 2002.
SURJUS, L.; CAMPOS, R. O. Deficiência Intelectual e Saúde Mental: quando a fronteira vira território. Rev. Polis e Psique, v. 3, p. 82-96, 2013.
ZORZANELLI, R. T.; ORTEGA, F.; BEZERRA JÚNIOR, B. Um panorama sobre as variações em torno do conceito de medicalização entre 1950-2010. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 6, p. 1859-68, jun. 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A revista Série-Estudos permite a reprodução total em outro órgão de publicação mediante a autorização por escrito do editor, desde que seja feita citação da fonte (Série-Estudos) e remetido um exemplar da reprodução. A reprodução parcial, superior a 500 palavras, tabelas e figuras deverá ter permissão formal de seus autores.
Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais.