A constituição da demanda para a Neurologia a partir da Educação
DOI:
https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v24i51.1217Palabras clave:
medicalização, Neurologia, encaminhamentos a Neurologia, neurocolonização, educação especial.Resumen
O presente texto é resultado de uma pesquisa que investiga a constituição da demanda para a Neurologia a partir da solicitada pela Educação utilizando elementos quantitativos e discursivos. Propõe-se o termo neurocolonização – em que os saberes das neurociências-pesquisa seriam fundamentais à otimização do ensino – e revisita-se o tema da medicalização na Educação, problematizando a prática de compreender o não aprendizado como falha do/no corpo do sujeito. Como estratégia metodológica, foi feito o levantamento dos encaminhamentos realizados num município da Grande Porto Alegre, RS e a análise de documentos escolares anexos a alguns desses encaminhamentos. Os achados indicam que as questões relacionadas à Educação figuram como a principal causa agrupável dentro dessas indicações, superando problemas como epilepsia/convulsões. A leitura desses anexos evidencia inespecificidade das situações-problema e hibridização de modos de olhar a questão das crianças que lançam desafios à escola, onde coexistem demandas por intervenções familiares, por classificações psiquiátricas contemporâneas e incidência de leituras psicologizantes, reproduzindo formas de medicalização e seus desdobramentos de medicamentalização e patologização.
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