O discurso do Banco Mundial para a educação na pandemia: neoliberalismo e expansão do ensino remoto como “oportunidades” para a América Latina e o Caribe no cenário de crise
DOI:
https://doi.org/10.20435/serieestudos.v28i62.1746Palavras-chave:
banco mundial, pandemia, educaçãoResumo
Em março de 2020, o mundo se deparou com a pandemia de covid-19 e, na tentativa de deter o avanço do vírus, medidas de distanciamento social foram adotadas pelos governos dos diversos países, resultando no fechamento das escolas, cujas metodologias de ensino tiveram de ser modificadas, passando do modelo presencial para o remoto ou híbrido. Na tentativa de conduzir esse processo, os organismos multilaterais produziram orientações sobre a reformulação das estruturas pedagógicas nos países periféricos, elaborando documentos a serem seguidos nessa conjuntura de crise internacional. Nesse sentido, o Banco Mundial publicou, em fevereiro de 2021, um relatório que sinaliza encaminhamentos a serem trilhados pelos governos da América Latina e do Caribe. O estudo, que se caracteriza pela abordagem qualitativa e documental, tem como objetivo compreender as contradições que emergem no discurso do relatório a partir dos determinantes históricos que impactaram a realidade educacional. A base metodológica foi a materialista-histórico-dialética, complementada pela análise de conteúdo de Bardin, utilizando a técnica de mineração de texto como suporte. Os resultados indicam a articulação de dois elementos discursivos, o primeiro aponta para as oportunidades de solidificação e ampliação de acesso dos sistemas educacionais, e o segundo, para a criação de um consenso para efetivação de iniciativas neoliberais que foram pensadas como emergenciais, porém, vêm ganhando status de permanentes.
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