Trajetórias transgêneras na educação de jovens, adultos e idosos: conquistas, horizontes e ameaças entre tempos, espaços e sujeitos escolares.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v20i52.1398

Palavras-chave:

trajetória escolar, transgeneridade, políticas de gênero e sexualidade, educação de jovens e adultos.

Resumo

Este artigo lança o olhar sobre narrativas transgêneras de estudantes que retornaram à escola através da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) da rede pública de Pernambuco. A permanência de jovens na escola é um problema histórico no Brasil, profundamente relacionado com fatores como a pobreza, o início precoce na vida laboral, o local da moradia (difícil acesso) e a falta de assistência à saúde. No caso das pessoas trans, esses aspectos se articulam à falta de reconhecimento, à ameaça constante de violência física e psicológica, à negação de acesso a espaços públicos e à precária rede de afetos e solidariedade. Essas trajetórias nos possibilitam pensar nos ambivalentes modos de existência que circulam e se cruzam no currículo, nos tortuosos e incompletos processos de criação de vidas forjados nas brechas da estrutura (cis-hetero)normativa e no efeito produtivo dos deslocamentos da política sexual no Brasil nas últimas duas décadas. O trabalho delineado busca apresentar-se como um recurso para demonstrar o sentido e o alcance real dos debates e das políticas de gênero e sexualidade no âmbito da educação, assim como para desmistificar as tentativas de reforçar estereótipos e projetar inimigos para buscar justificar a (re)produção de projetos históricos de dominação e exploração através do medo, do ódio e da violência.

Biografia do Autor

Dayvi Santos, Secretaria de Educação de Pernambuco

Mestra em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenadora da Unidade de Educação para as relações de gênero e sexualidade da Secretaria de Educação de Pernambuco.

Anna Luiza A R Martins de Oliveira, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Professora do Núcleo de Formação Docente e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

 

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS (AGBLT). Secretaria de Educação. Pesquisa nacional sobre o ambiente escolar no Brasil 2016: as experiências de adolescentes e jovens lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em nossos ambientes educacionais. Curitiba: AGBLT, 2016.

ALMEIDA, G. ‘Homens trans’: novos matizes na aquarela das masculinidades? Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 513-23, maio/ago. 2012.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS (ANTRA). Mapa dos assassinatos de travestis e transexuais no Brasil em 2017. Brasil: Antra, 2018. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antra.pdf. Acesso em 25 nov. 2019.

ÁVILA, S. Transmasculinidades: a emergência de novas identidades políticas e sociais. Rio de Janeiro: Multifoco, 2014.

ÁVILA, S.; GROSSI, M. P. Maria, Maria João, João: reflexões sobre a transexperiência masculina. In: FAZENDO GÊNERO: DIÁSPORAS, DIVERSIDADE, DESLOCAMENTOS, 9., 2010, Florianópolis, SC. Anais [...]. Florianópolis: UFSC, 2010.

BENEDETTI, M. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

BENEVIDES, B.; NOGUEIRA, S. N. B. Dossiê: Assassinatos e violência contra travestis e transexuais no Brasil em 2018. Brasil: ANTRA/IBTE, 2019. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2019/01/dossie-dos-assassinatos-e-violencia-contra-pessoas-trans-em-2018.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019.

BENTO, B. Nome social para pessoas trans: cidadania precária e gambiarra legal. Contemporânea, São Carlos, SP, v. 4, n. 1 p. 165-82, jan./jun. 2014.

BENTO, B. Na escola se aprende que a diferença faz a diferença. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 19, n. 2, p. 549-59, maio/ago. 2011.

BROWNE, K. Genderism and the Bathroom Problem: (re)materialising sexed sites, (re)creating sexed bodies. Gender, Place & Culture, Londres, v. 11, n. 3. p. 331-46, 2004.

BUTLER, J. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’. In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

CARRARA, S. Moralidades, racionalidades e políticas sexuais no Brasil contemporâneo. Mana, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 323-45, maio/ago. 2015.

CRUZ, E. F. Banheiros, travestis, relações de gênero e diferenças no cotidiano da escola. Psicologia Política, São Paulo, v. 11, n. 21, p. 73-90, jan./jun. 2011.

DI PIERRO, M. C. Notas sobre a redefinição da identidade e das políticas públicas de Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Educação & Sociedade, Campinas, SP, v. 26, n. 92, especial, p. 1115-39, out. 2005.

FRANCO, N.; CICILLINI, G. A. Professoras trans brasileiras em seu processo de escolarização. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 325-46, maio/ago. 2015.

HADDAD, S.; DI PIERRO, M. C. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, Rio de janeiro, n. 14, p. 108-94, maio/ago. 2000.

HALBERSTAM, J. Female masculinity. Durham, NC: Duke University Press, 1998.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.

HANNA, W.; CUNHA, T. Discriminação rouba de transexuais o direito ao estudo. Correio Brasiliense. [s.d.]. Disponível em: http://especiais.correiobraziliense.com.br/violencia-e-discriminacao-roubam-de-transexuais-o-direito-ao-estudo. Acesso em: 10 set. 2019.

HISSA, C. V.; NOGUEIRA, M. L. M. Cidade-corpo. Revista UFMG, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 54-77, jan./jun. 2013.

JESUS, J. G. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Brasília, 2012. Disponível em: http://www.diversidadesexual.com.br/wp-content/uploads/2013/04/G%C3%8ANERO-CONCEITOS-E-TERMOS.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019.

JOVCHELOVITCH, S,; BAUER, M. Entrevista narrativa. In: BAUER, M.; GASKELL, G. (Org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. p. 90-113.

JUNQUEIRA, R. D. Homofobia nas escolas: um problema de todos. In: JUNQUEIRA, R. D. (Org.). Diversidade sexual na escola: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.

LACLAU, E.; MOUFFE, C. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. São Paulo: Intermeios; Brasília: CNPq, 2015.

LANZ, L. Ser uma pessoa transgênera é ser um não-ser. Periódicus, Salvador, n. 5, v. 1, p. 205-20, maio/out. 2016.

LEITE JÚNOR, J. “Nossos corpos também mudam”: sexo, gênero e a invenção das categorias “travesti” e “transexual” no discurso científico. 233fs. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.

MISKOLCI, R. Pânicos morais e controle social: reflexões sobre o casamento gay. Cadernos Pagu, Campinas, SP, n. 28, p. 101-28, jan./jun. 2007.

MUNT, S. Butch/femme: inside lesbian gender. London: Cassel, 1998.

NERI, M. C. O tempo de permanência na escola e os sem-escola. Rio de Janeiro: FGV/IBRE/CPS, 2009.

OLIVEIRA, A. L. A. R. M.; OLIVEIRA, G. G. S. Curriculum policies of gender and sexuality in Brazil. Transnational Curriculum Inquiry, v. 16, n. 1, p. 38-60, 2019.

OLIVEIRA, A. L. A. R. M; OLIVEIRA, G. G. S. Novas tentativas de controle moral da educação: conflitos sobre gênero e sexualidade no currículo e na formação docente. Educação Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 22, n. 1, p. 16-25, jan./mar. 2018.

PAIVA, V. História da educação popular no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

PARKER, R.; CAMARGO JÚNIOR, K. R. Pobreza e HIV/AIDS: aspectos antropológicos e sociológicos. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16 (Sup. 1), p. 89-102, 2000.

PELÚCIO, L. “Sin papeles” pero con glamur: Migración de travestis brasileñas a España (Reflexiones iniciales). Vibrant, Florianópolis, v. 6, n. 1, p. 170-97, jan./jun. 2009.

PRÓCHNO, C. C. S. C.; ROCHA, R. M. G. O jogo do nome nas subjetividades travestis. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 23, n. 2, p. 254-61, maio/ago. 2011.

RANNIERY, T. Corpos feitos de plástico, pó e glitter: currículos para dicções heterogêneas e visibilidades improváveis. 412F. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2016.

RASMUSSEN, M. L. Beyond gender identity? Gender and Education, London, v. 21, n. 4, p. 431-47, 2009.

RUBIN, G. Thinking sex: notes for a radical theory of the politics of sexuality. In: ABELOVE, H.; BARALE, M.; HALPERIN, D. (Org.). The lesbian and gay studies reader. Nova York: Routledge, 1993.

SANTOS, D. Sobrevivi para contar: experiências escolares transgêneras na educação de jovens, adultos e idosos (EJAI). 147f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.

Downloads

Publicado

2019-12-04

Como Citar

Santos, D., & Oliveira, A. L. A. R. M. de. (2019). Trajetórias transgêneras na educação de jovens, adultos e idosos: conquistas, horizontes e ameaças entre tempos, espaços e sujeitos escolares. Série-Estudos - Periódico Do Programa De Pós-Graduação Em Educação Da UCDB, 20(52), 49–75. https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v20i52.1398

Edição

Seção

Dossiê: Gênero e Sexualidade: lutas no currículo em tempos de novos mapas políticos e culturais